O que o Fantástico não mostrou sobre depressão?
Recentemente o Fantástico veiculou uma série chamada “Não tá tudo bem, mas vai ficar”, falando sobre depressão e tendo como mediador o Dr. Drauzio Varela.
Foi louvável a iniciativa da Rede Globo em tratar de forma cuidadosa e informativa sobre a depressão, doença cujas estatísticas apontam um dado alarmante: em torno de 20% das pessoas irão sofrer em algum momento da vida desta doença.
Ainda que muitas informações interessantes tenham sido abordadas nesta série (p. ex.: identificação e tratamento do quadro depressivo; suicídio; transtorno bipolar), trata-se de uma doença complexa e muitos temas extremamente relevantes não foram abordados.
No nosso site já existe um artigo com informações para entender melhor depressão, mas iremos te contar alguns “segredos” que as pessoas não sabem sobre a doença!
3 segredos que não foram mencionados
Uma série, por mais cuidadosa que seja, não tem como abordar de forma ampla os tópicos referentes à depressão. Vamos complementar e entender alguns pontos que considero relevantes para uma compreensão mais completa de como a depressão pode ser identificada e tratada.
1) A depressão também é uma doença inflamatória!
Os neurotransmissores (dopamina, serotonina e noradrenalina) são substâncias cerebrais que, quando desreguladas, podem promover o aparecimento da patologia. Além disso, níveis consistentemente altos de cortisol, também conhecido como “hormônio do estresse”, podem promover a incidência do quadro depressivo.
O que a Globo não mostrou foi que muitos tipos de depressão também tem características de doença inflamatória. Como assim? Quando estamos com alguma inflamação importante no nosso organismo, algumas substâncias são produzidas e é possível detectá-las em um exame de sangue. Estas substâncias são chamadas de marcadores inflamatórios.
Indivíduos com depressão podem ter altos níveis de alguns marcadores inflamatórios no exame de sangue, tais como a interleucina 6 (IL-6), o TNF alfa e a proteína C reativa (PCR)! E o mais curioso: após o tratamento, costuma haver diminuição da inflamação antes encontrada!
Alguns estudos apontam que indivíduos com altos níveis de marcadores inflamatórios podem ter uma doença mais grave e difícil de tratar, casos chamados de refratários. Neste contexto, alguns anti-inflamatórios, como o celecoxib e o infliximab já estão sendo estudados para potencializar o tratamento antidepressivo tradicional.
2) A depressão tem um componente genético e já existem testes genéticos para ajudar a guiar o tratamento!
A depressão muitas vezes é precipitada por conflitos do dia-a-dia, o que pode fazer o leigo pensar que ela é uma doença de caráter puramente ambiental, sem qualquer interferência dos genes. Trata-se de um erro, pois é estimado que o peso da genética sozinha na depressão fica em torno de 30%, independente de outros fatores externos.
Isto explica porque alguns indivíduos podem ter depressão “do nada”, por vezes sem qualquer precipitador identificado. Às vezes o indivíduo pode se culpar por não ter motivos aparentes para ter depressão, mas na verdade existem, sim, motivos genéticos e que levam – em última instância – às alterações químicas no cérebro descritas anteriormente.
Apesar de existir certa controvérsia quanto a este tema, já existem alguns estudos demonstrando que exames de farmacogenética podem promover um melhor desfecho clínico aos pacientes. E o que mostram estes testes sanguíneos? Os exames mais estudados são aqueles que pesquisam, do ponto de vista genética, o metabolismo dos vários medicamentos. A depender da genética individual, alguns indivíduos podem metabolizar de forma mais lenta ou rápida os diversos fármacos.
Assim, paciente metabolizadores lentos podem estar mais propensos a ter muitos efeitos colaterais a determinados antidepressivos e, ao contrário, os metabolizadores ultra-rápidos podem perder eficácia antidepressiva. Deste modo, os testes genéticos podem ser utilizados sobretudo em indivíduos que são muito suscetíveis a efeitos colaterais ou que são refratários aos tratamentos.
Neste contexto, os testes genéticos fazem parte do que chamamos de psiquiatria personalizada ou psiquiatria de precisão, ou seja: o tratamento deve ser individualizado à realidade genética e biológica de cada paciente que nos procura, de tal forma que se busque o melhor equilíbrio entre resposta e tolerância aos fármacos.
3) Existe tratamento rápido para a depressão e nem sempre é medicamentoso!
A série do Fantástico mencionou que o tratamento antidepressivo demora para atuar. Apesar de a maioria dos tratamentos tradicionais com os antidepressivos clássicos (fluoxetina, sertralina, paroxetina, venlafaxina, dentre outros diversos medicamentos) demorarem em torno de duas semanas para iniciar o efeito, existem tratamentos de efeitos muito mais rápidos.
Quando um indivíduo sofre de depressão, sobretudo os casos graves e refratários, o sofrimento pode ser muito intenso e até mesmo levar a ideias de suicídio. Muitas vezes é imperativo que o tratamento ocorra rapidamente e não é possível esperar. Algumas situações de risco de suicídio são urgências psiquiátricas e devem ser tratadas de acordo.
Um dos tratamentos mais efetivos para depressão trata-se da eletroconvulsoterapia (ECT). Este nome te faz lembrar de algo? Já ouviu falar do famigerado “eletrochoque”? Esqueça todos os estigmas errados sobre este tratamento, que é um dos mais eficazes da psiquiatria
ESQUEÇA tudo o que o Holywood já mostrou sobre a eletroconvulsoterapia (ECT)!
A ECT trata-se de uma técnica em que correntes elétricas, em parâmetros bastante estudados e seguros, são aplicadas no cérebro para promover a melhora rápida do quadro depressivo. Mais do que uma melhora rápida, a ECT é, em média, mais efetiva do que todos os outros medicamentos antidepressivos.
Um dos inúmeros estudo sobre ECT mostrou que 38,2% dos pacientes ficam sem ideias suicidas (remissão) já após uma semana de tratamento com ECT (três sessões). Após duas semanas, as taxas foram de 61% de remissão e de 80,9% após o término do tratamento (Kellner et al., 2005).
Quanto a pacientes que não respondem ao tratamento antidepressivo convencional, casos chamados de refratários, estudo demonstra que 65,8% deles tiveram uma diminuição de pelo menos 50% dos sintomas e 53,3% dos pacientes tiveram remissão dos sintomas após pelo menos seis sessões de tratamento (Khalid et al., 2008).
Hoje a ECT para depressão é feita de forma extremamente segura, em conformidade com uma série de parâmetros instituídos pela Resolução CFM Nº 1640/2002 do Conselho Federal de Medicina. O procedimento deve ser feito apenas mediante anestesia. Para exemplificar a segurança, o risco de mortalidade neste procedimento é equivalente apenas ao do procedimento anestésico. Para conhecer outros detalhes sobre a ECT, acesse esta e esta matéria publicada no Jornal O Povo.
Ainda, há outros tratamentos de efeitos rápidos, tais como a infusão de ketamina na veia ou subcutânea, um anestésico com efeitos antidepressivos potentes quanto realizado em doses mais baixas. Mais recentemente foram aprovados dois antidepressivos de efeito rápido. O primeiro, a esketamina nasal é um derivado da ketamina e foi aprovado neste ano de 2019 no mercado americano. O segundo trata-se da brexanolona, um antidepressivo derivado de um hormônio chamado alopregnanolona, que é utilizado por infusão na veia para tratar especificamente a depressão pós-parto! Para conhecer melhor a depressão pós-parto, acesse agora o artigo no site clicando aqui.
Onde encontrar tratamento?
Caso deseje conhecer mais sobre a depressão ou sobre os temas tratados, conheça o trabalho do Dr. Igor Emanuel, médico psiquiatra e terapeuta cognitivo-comportamental em Fortaleza – Ceará, com experiência do tratamento de depressão. Conheça agora o currículo e o trabalho dele e trate seu problema já!