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10 mitos comuns sobre ansiedade – Dr. Igor Emanuel

1) “Estar ansioso é algo ruim”

Ansiedade é um fenômeno humano universal e tem funções importantes. Ter ansiedade, em um nível controlável, é algo que faz com que nos preocupemos com aquilo que precisamos nos preocupar. Também é algo que nos protege de potenciais riscos e perigos diversos (não seria algo protetor, por exemplo andar despreocupado pela madrugada em uma rua escura e sozinho). O problema é quando a ansiedade passa a ser contínua e desproporcional, trazendo sofrimento e impacto significativo na vida do indivíduo. Neste caso temos uma patologia e empregamos o termo “transtorno de ansiedade” para separá-la da ansiedade fisiológica, a ansiedade “boa” sobre a qual antes falamos.

 

2) “Uma pessoa com transtorno de ansiedade é uma pessoa medrosa”

Na verdade, dentre os transtornos de ansiedade estão inclusos os quadros fóbicos (por exemplo: fobia social e fobia específica), que são aquelas situações nas quais o indivíduo tem um extremo medo de um determinado objeto ou situação. Por outro lado, existem situações de ansiedade desproporcional, em que os indivíduos dela portadores são muito preocupados com diversas temáticas do dia-a-dia (por exemplo, trabalho, família, etc.). Não há necessariamente medo de algo, mas sim a existência de preocupações que são difíceis de controlar e, como consequência, podem causar disfunção em várias áreas da vida do portador (insônia; dificuldade de concentração; tensão muscular; sintomas gastrointestinais; taquicardia; falta de ar, etc.). Pessoas com estes sintomas podem estar sofrendo de transtorno de ansiedade generalizada (TAG). Assim, temos que os transtornos de ansiedade são uma família de transtornos, cada um deles com uma apresentação específica.

 

3) “Transtornos de ansiedade e depressão são condições totalmente separadas”

Apesar de ambas as condições serem, de fato, classificadas separadamente e terem apresentações de sintomas diferentes, há uma importante associação entre as duas. Indivíduos cronicamente ansiosos tem mais tendência a sofrerem de episódios depressivos e a relação inversa também é verdadeira. Quando ambos os transtornos mentais ocorrem conjuntamente, ocorre o que chamamos de “comorbidade”. Os quadros com comorbidades tendem a ser de manejo um pouco mais complexo, necessitando uma abordagem personalizada e direcionada não somente para a patologia principal, mas também visando debelar os sintomas do outro diagnóstico associado. Procurar uma equipe em saúde mental com psiquiatra e terapeuta podem permitir uma abordagem mais resolutiva para o tratamento dos diagnósticos em questão.

 

4) “Sintomas de ansiedade são sempre ligados a transtornos de ansiedade”

Também é possível que condições médicas gerais gerem secundariamente sintomas ansiosos que necessitam ser discriminados de um transtorno ansioso primário. Por exemplo, doenças da tireoide tem uma relação estreita com patologias psiquiátricas. O hipertireoidismo (funcionamento excessivo da tireoide) pode causar sintomas de ansiedade, tais como: nervosismo; coração acelerado; sudorese e insônia. Deste modo, é importante investigar condições clínicas que possam estar gerando, ou mesmo complicando, sintomatologia de ansiedade. Se por um lado a investigação com exames laboratoriais é importante para excluir causas secundárias, por outro a maioria dos quadros são de transtornos ansiosos não ligados a condições clínicas. É importante que o diagnóstico e tratamento de um transtorno de ansiedade deva ser o mais precoce possível, de forma que o psiquiatra é aquele que está apto a proceder com esta investigação e determinar a conduta mais apropriada a cada caso em particular. Ainda, quadros depressivos também podem evoluir com alguns sintomas de ansiedade.

 

5) “Se eu tiver “pânico”, poderei morrer disso”

Uma primeira colocação importante é ressaltar que o “transtorno do pânico” é um subtipo de transtorno de ansiedade. Também é relevante distinguir a diferença entre um “ataque de pânico” e o “transtorno do pânico”. O ataque de pânico é um episódio de ansiedade súbita, “em pico”, muito intensa e de curta duração, manifestada com sintomas físicos (p.ex.: coração acelerado; falta de ar; dormência; formigamento) e sintomas psíquicos (p.ex.: sensação de morte iminente; de enlouquecer; de perder o controle). O ataque de pânico pode acontecer em razão de diversas circunstâncias geradoras de ansiedade (p.ex.: estresse crônico no trabalho) e ser evento isolado. Por outro lado, quando ocorrem vários ataques de pânico com recorrência e sem precipitadores claros, o indivíduo pode estar sofrendo com transtorno de pânico. Apesar das sensações físicas extremamente desagradáveis que o pânico pode trazer (e o consequente medo da morte), não há quaisquer evidências demonstrando que indivíduos com ataque de pânico tenham mais doenças cardíacas ou outras patologias que possam levar ao óbito.

 

6) “A melhor forma de minimizar a ansiedade é tentando inibi-la”

É comum que indivíduos com sintomas ansiosos intensos tentem suprimir os pensamentos/emoções correlacionados, uma vez que tais vivências são bastante desagradáveis. Na verdade, quando tentamos afastar ativamente uma sensação ou pensamentos ligados a ansiedade, não é incomum que estes fenômenos psíquicos aumentem. Evitar a ansiedade pode fazer com que pensamentos e sensações se tornem mais intensas e desagradáveis ao longo do tempo. Inclusive, uma das técnicas de tratamento para ansiedade em terapia psicológica (psicoterapia), especificamente no caso da terapia cognitivo-comportamental (TCC), é fazer com que o indivíduo seja capaz de aproximar-se paulatinamente da ansiedade, a partir de recursos que permitam este enfrentamento mais suavemente, a partir de algumas técnicas de relaxamento (p.ex.: respiração diafragmática; relaxamento muscular progressivo). Deste modo, através de técnicas bem estudadas e estabelecidas na literatura científica, o paciente é capaz de lidar com a ansiedade de uma forma mais funcional. Portanto, evitar a evitação da ansiedade é fundamental!

 

7) Posso controlar minha ansiedade sem ajuda de um profissional

De fato, todos os indivíduos têm algum grau de autorregulação emocional. O cérebro é capaz de moldar-se em alguma medida, aprendendo com o meio no qual está inserido, capacidade esta que chamamos de “neuroplasticidade”. Assim, é verdade que em estágios iniciais de um quadro de ansiedade, ou em um transtorno ansioso mais leve, talvez o indivíduo possa melhorar utilizando estratégias próprias, sem a mediação de um profissional. Exercícios físicos, meditação, alguns fitoterápicos e acupuntura são apenas alguns dos métodos que tem evidência científica para a minimização da ansiedade. A questão é quando a ansiedade já está em um nível incontrolável, estando suprimida a capacidade inata do indivíduo de regulá-la. Infelizmente, é o que acontece em muitos casos, pois a maioria das pessoas não dispõe das estratégias efetivas para lidar com a ansiedade. É neste contexto que o profissional de saúde mental, psiquiatra ou um terapeuta, deverá atuar precocemente, promovendo a recuperação da saúde mental do paciente.

 

8) Os remédios para ansiedade são melhores que terapia

Depende! Vários estudos demonstram que a terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ter eficácia semelhante ao uso de remédios para tratamento de transtornos psiquiátricos (psicofarmacoterapia). Em contrapartida, alguns indivíduos padecem de transtornos de ansiedade mais crônicos e graves, apresentando sintomas muito importantes já no início do tratamento. Nestes casos, a minimização rápida da ansiedade poderá ser um fator crucial tanto para o pronto bem-estar do paciente, uma vez que a TCC pode demorar mais para atuar, como também facilita que o paciente possa introduzir-se e envolver-se com mais eficácia em um processo de psicoterapia. Imperativo também recordar que muitas vezes a preferência individual dita o tratamento, pois alguns indivíduos estão mais inclinados a usar psicofármacos com o psiquiatra, enquanto outros tem preferência por psicoterapia.

 

9) “Não vou usar remédio psiquiátrico para ansiedade, pois vou ficar dependente!”

 

Nem todos os remédios para ansiedade são passíveis de gerar dependência. Na verdade, tecnicamente apenas os fármacos da classe dos benzodiazepínicos (p.ex.: clonazepam; alprazolam; diazepam) tem uma possibilidade de causar dependência. Habitualmente estes medicamentos são usados apenas no começo do tratamento, pois fazem efeito rapidamente, trazendo um alívio quase imediato nos sintomas de ansiedade como um todo, inclusive promovendo melhoria rápida do sono. Dado o risco de dependência, na maior parte dos casos estes remédios são retirados após estabilização dos sintomas. Ressalta-se, contudo, que alguns indivíduos com transtornos mentais um pouco mais complexos podem necessitar de tratamento mais continuado com benzodiazepínicos. Ainda assim, comumente o controle dos sintomas ocorrerá, no longo prazo, com o uso de medicamentos da família chamada “inibidores seletivos da receptação de serotonina” (p.ex.: fluoxetina; sertralina; paroxetina; escitalopram, dentre outros). Existem muitos mitos e verdades sobre esta questão na dependência e escrevi um texto específico sobre isto. Confira!

 

10) “Nunca mais terei transtorno de ansiedade! Foi só uma fase e estou curado!”

 

Muitas vezes os transtornos de ansiedade são precipitados por estressores comuns da vida, tais como: problemas laborais; dificuldades financeiras; conflitos de caráter conjugal e com familiares; luto, etc. Apesar de comumente haver um fator desencadeante para o início das crises, há questões bioquímicas cerebrais e também genéticas que, infelizmente, conferem um risco de recaída aumentado para os indivíduos que inicialmente se recuperaram de um transtorno ansioso. Por exemplo, computando-se os transtornos de ansiedade em geral, estima-se recaída em torno de 30% em um ano após suspensão dos psicofármacos. Ou seja, o uso de medicamentos prescritos por um psiquiatra pode ser necessário no médio/longo prazo, embora um processo de psicoterapia também pode instrumentalizar o indivíduo para evitar o risco de recaída no caso da opção de retirada dos psicofármacos. Assim, caso se opte pelo uso de medicamentos, deve-se ter em mente a necessidade de não suspender precocemente o remédio por conta própria e sempre discutir com o psiquiatra a respeito do tempo previsto de uso.

 

Após ler o artigo “Os 10 mitos comuns sobre ansiedade”, caso ache que pode estar sofrendo com transtorno ansiedade, conheça o trabalho do Dr. Igor Emanuel no site, Instagram, Facebook e marque uma consulta.

 

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Sobre Dr. Igor Emanuel – Psiquiatra

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